Este projeto foi desenvolvido em parceria entre os colegas Guilherme Souza Lessa, Larissa Kock Adriano, Mauricio Storchi, Maria Luiza Bratti e Stefan Maier para um concurso de ideias promovido pelo portal Projetar.org (https://projetar.org/concurso_ver/49/habitação-social-no-largo-do-paissandú-027). A proposta do concurso era desenvolver uma Habitação de Interesse Social no terreno onde localizava-se o Edifício Wilton Paes de Almeida, no largo do Paissandú, centro de São Paulo/SP.
A expansão especulativa do perímetro urbano vem resultado na subutilização da infraestrutura e denso estoque imobiliário disponível na área central das cidades que, em consequência, traz o binômio escassez/ociosidade que leva à marginalização e segregação das camadas sociais mais vulneráveis. No Brasil, a ação de “ocupar” sempre foi o recurso encontrado pelas populações de baixa renda, que não tem acesso à moradia nas grandes cidades. Nesse quadro, o direito à habitação central, acessível e de qualidade caracteriza-se também como uma questão social. Compreendendo o direito à cidade e à moradia como direitos humanos, a presente proposta procura responder a essas questões, focando nos valores qualitativos dessa ocupação e sua viabilidade econômica.O projeto se desenvolve a partir da premissa do edifício como um organismo dinâmico e em constante mudança, se desenvolvendo de acordo com as características distintas das famílias que virão a habitá-lo, permitindo uma ocupação que melhor se adeque às suas realidades.
Circulação VerticalA torre de circulação vertical possui salas de uso comercial ou de serviços, demarcando a zona de transição entre o caráter essencialmente público do espaço urbano e o caráter privado das moradias. A torre também dispões de lavanderias comunitárias em cada andar, como forma de aproveitar melhor o espaço das habitações e provocar o encontro entre os moradores. Como forma de integrar os futuros habitantes e criar uma identidade comunitária, o projeto também contempla espaços complementares à moradia.Pavimentos ComunitáriosO volume central da torre de habitacional foi reservado para oferecer ambientes de encontro e socialização e que compõem uma rede de atividades e usos como o lazer, a recreação, estudo e serviços básicos. No pavimento 15 é proposta a instalação de uma creche, uma vez que muitas famílias da antiga ocupação eram compostas apenas por mães e filhos. No mesmo andar, encontram-se salas de uso comunitário que criam uma área para estudo, leitura e oficinas. No andar superior, está localizado um salão para reuniões e uma área de recreação das crianças.TérreoA proposta busca se integrar ao meio urbano, diluindo os limites entre público e privado, através de usos que promovam o convívio e a formação da identidade local. Aproveitando a implantação perimetral do volume edificado, foram disponibilizados espaços para unidades comerciais no térreo e 2º pavimento, valorizando sua relação de interface com a rua. Passagens ao longo da fachada térrea conduzem à área de permanência no centro da quadra, onde se encontra o memorial ao acontecimento do dia 1º de maio de 2018, junto à Igreja Evangélica Luterana de São Paulo. O térreo também abriga o bicicletário para usos dos moradores, incentivando um modelo de cidade onde o uso do automóvel é restrito em detrimento de um transporte mais ecológico.MemorialContrariando o senso de ocupação máxima do terreno, buscando maior densidade, o edifício projetado ocupa apenas a porção perimetral da quadra. O que nos leva a essa decisão projetual é, precisamente, a natureza do lugar e os eventos ocorridos. Se por um lado, o local deve atender a demanda por habitação na cidade e suas necessidades programáticas, ele também deve servir como um marco transformador da realidade urbana brasileira. O vazio deixado no miolo da quadra abriga a topografia da cidade de São Paulo esculpida sobre o piso, encoberta por uma lâmina d’água que reflete a edificação, emoldurando seus residentes. Uma escadaria leva os visitantes a transitar pela passarela no nível superior, onde o memorial convida a uma reflexão sobre as milhares de pessoas inundam a cidade em busca de melhorar as suas vidas. Nesse sentido, é o vazio que dá significado ao volume edificado, proporcionando um espaço público que promove a meditação e a contemplação dentro da malha urbana.
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